Conexões históricas em perspectiva na mais recente edição da Esboços: histórias em contextos globais

09/09/2019 19:36

A revista Esboços: histórias em contextos globais, editada pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), publicou o volume 26, número 42. A edição traz o dossiê intitulado “Toda história é história conectada?”, composto por cinco artigos que apresentam múltiplas respostas aos desafios colocados pelo estudo das conexões históricas, em uma interface importante com a História Global.  

Segundo Alex Degan e Lindener Pareto Junior, organizadores do presente dossiê, os seus textos “visam contribuir para o debate cada vez mais amplo de histórias em contextos globais, para além do nacionalismo metodológico, privilegiando conexões, escalas de análise integradas na longa duração ou na conexão de um espaço geográfico mais amplo.” O teor dos artigos evidencia sujeitos e redes amplos e conectados, resultando num interessante mosaico metodológico cuja linha mestra é a da história conectada.

Entre os trabalhos publicados está “Os Pláucios, a emancipação da plebe e a expansão romana: conectando as histórias interna e externa da República Romana”, de autoria de José Ernesto Knust, do Instituto Federal Fluminense. Para o autor, “a divisão tradicional entre história interna e externa de Roma acaba por nos impedir de ver conexões e simbioses entre processos que se dão em escalas geográficas diferentes”. Nesse sentido, focalizando o período republicano da Roma Antiga, Knust propõe uma análise inovadora ao olhar para as transformações da época como partes de um mesmo processo histórico.

Em “Connecting Worlds, Connecting Narratives: Global History, Periodisation and the Year 751 CE”,  Otávio Luiz Vieira Pinto, da Universidade Federal do Paraná, estabelece uma narrativa conectada entre Oriente e Ocidente, tomando o ano de 751 E.C. como um laboratório para repensar a forma como tradicionalmente a história pré-moderna é periodizada. Destacando o etnocentrismo que ainda afeta a prática historiográfica, o autor argumenta que “um olhar mais amplo e diverso, tanto cultural quanto geograficamente, permite perceber novas maneiras de periodizar a história sem privilegiar unicamente a história européia.”

Já Luciana Fazio, da Libera Università Internazionale degli Studi Sociali Guido Carli (Roma) e autora do artigo “Más allá de una simple biografía: “el caso Cerruti” una historia conectada y multinivel enlazada por un ‘historiador electricista‘”,  assinala que “uma simples biografia, ‘micro’, pode esconder uma história ‘macro’ na qual de se conjugam dimensões nacionais, internacionais, transnacionais”. Por meio do “caso Cerruti”, ela demonstra de que modo a história conectada opera, refletindo sobre como a historiografia atual pode efetuar uma leitura diferente do passado por meio de um estudo multinível.

O quarto artigo, denominado “Contribuições preliminares da história universal de H.G. Wells: elementos de história socioevolucionista e da world history contemporânea”, busca recriar o debate público gerado pela grande repercussão editorial e popular da publicação da História universal (1919), do escritor inglês H.G. Wells. O autor, Fábio Luciano Iachtechen, do Instituto Federal do Paraná,  argumenta que “o arranjo proposto por Wells pode ser considerado precursor da world history, cujas características podemos identificar inicialmente nas décadas de 1960 e 1970, a partir de temas concernentes a um mundo globalizado em suas múltiplas perspectivas, como doenças, imigrações, questões ambientais, identidades ou circulação do conhecimento”.

Por fim, Raissa Brescia dos Reis e Taciana Almeida Garrido Resende chamam atenção para o entrelaçamento de propostas alternativas para as Relações Internacionais a partir da década de 1950. O seu artigo, “Bandung, 1955: ponto de encontro global”, põe em xeque análises correntes sobre a Conferência Afro-Asiática de Bandung (1955), vista como fundamental para os estudos de uma História Global da segunda metade do século XX. Segundo as autoras, “o artigo nasceu do encontro de duas pesquisas que problematizam os silêncios em torno da mobilização terceiro-mundista.”

A Esboços: histórias em contextos globais tem como principal objetivo fomentar o debate em torno da História Global, publicando artigos, entrevistas e resenhas, em português, inglês e espanhol, que tragam enfoques transnacionais, transculturais e comparados, explorando processos em micro e macro escala, em múltiplas temporalidades. Com efeito, além do dossiê mencionado, este número conta com cinco artigos livres e uma resenha que se articulam à História Global em suas diversas vertentes. O conteúdo completo desta e das edições anteriores está disponível em acesso aberto, via Portal de Periódicos da UFSC. Para conferi-lo, acesse o site da revista.